Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2018

SOBRESSALTO NO ÔNIBUS

Imagem
O UFPA/Ver-o-Peso estava quase vazio nesta quarta-feira. Chovia na hora que embarquei com destino ao Campus do Guamá. Com as janelas fechadas, a ventilação foi ficando mais escassa e o suor do corpo aumentou. No meio do itinerário, um homem magro subiu pela porta de trás do veículo, sem pagar a passagem, e começou a distribuir bilhetes para os poucos passageiros. O bilhete dizia que ele era um ex-presidiário, não conseguia emprego e tinha dois filhos para sustentar. Queria nem que fosse 50 centavos. Pensei o pior. Minha mochila, meu celular, meus cartões... Vou perder tudo? O cara é ex-presidiário. Lá vem ele. Estava sozinho nas últimas cadeiras. Reiterei as moedas do bolso antes que ele chegasse perto e, em seguida, passei para o pedinte.  Pensei que ele fosse descer depois que pegasse o dinheiro, já que eu era o último abordado. Mas não. Ele se assentou ao meu lado. Vai ser agora, pensei. Olhei pro homem e perguntei "qual teu nome?". Jessé, disse ele. "Por que

VIDA DE RIBEIRINHO

Imagem
Experimente passar o final de semana na beira de um rio. Leve apenas o básico. Recomendo colocar um livro na mochila, você terá tempo para ler. O dia parece passar devagar em comunidades ribeirinhas, tudo é tranquilo e calmo, sem pressa e agitação. Bom para o descanso. Sinto isso toda vez que visito amigos ribeirinhos em Barcarena. A acolhida na casa de qualquer um é a mais simples e sincera. O ribeirinho não vive no luxo nem no conforto de uma casa com ar condicionado, mas tem um ambiente agradável em contato com a natureza, uma relação essencial para a sobrevivência. Para os moradores dessas comunidades, o rio é caminho, é rua, é estrada. É também fonte de alimento e renda. A terra é generosa, abundante em frutas, principalmente o açaí, que tem grande poder de comercialização. O movimento da maré é parte da rotina de uma gente que não precisa de muito para viver bem. Mas o essencial é necessário. Não podem faltar escolas, postos de saúde, transporte e respeito ao meio ambiente.

FELINOS NO CARNAVAL

Imagem
Um tigre é o mascote do Bloco dos Amigos, em Barcarena, este ano. Ele desfila entre os foliões e posa ao lado dos brincantes aos domingos. A escolha do animal para representar o Arrastão dos Amigos veio a calhar com o clima que toma conta das ruas durante as festas de carnaval: o clima de caçada. Os felinos (homens e mulheres) ficam mais agitados na folia, típico de tigres em busca de satisfação. Eles têm um corpo esbelto, audição aguçada e excelente vista. No carnaval, não necessariamente é preciso ter corpo esbelto ou audição aguçada, até porque o barulho pode atrapalhar, mas a visão é tudo. É importante perceber os olhares e os movimentos daquela ou daquele que pode ser uma “presa”. Mas é importante saber também que, quando se trata de gente, a relação não deve ser animalesca. Pessoa tem, além de corpo, sentimentos, alma, coração, cérebro e direitos. Tem que respeitar. Portanto, a caçada dos felinos faz parte do carnaval. Melhor ainda quando o resultado é satisfatório. Mas, e

NÃO À VIOLÊNCIA

Imagem
Moradores da Ilha Trambioca, em Barcarena, andam se queixando da falta de segurança nas comunidades. Os relatos de quem mora lá são preocupantes. Recentemente, um casal de idosos foi vítima de assalto, quando passava de moto pela estrada que leva à praia de Sirituba. Os criminosos teriam sido agressivos. Nos últimos dias, houve outros casos de violência na área. A Ilha Trambioca tem 18 comunidades interligadas por dezenas de ramais. A maioria das famílias mora em pequenas áreas, sítios e vilas próximas das praias. Cinco mil pessoas habitam o território, que é formado por uma natureza exuberante. Mas a tranquilidade característica do lugar vem sendo quebrada por gente mal intencionada, que se infiltrou na ilha. Segundo lideranças comunitárias, a Polícia Militar já está ciente da situação e vai tomar providências. Os moradores também pediram apoio do prefeito para resolver o problema. Vilaça prometeu ajudar, mesmo sabendo que a segurança pública é competência do governo estadual. E

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

Imagem
Acordei cedo hoje para caminhar. Foi difícil resistir a vontade de continuar deitado, mas antes das seis da manhã já estava de pé. Preciso cuidar do corpo, por questão de saúde. Tenho que perder dez quilos pelo menos, e essa promessa foi feita a mim mesmo no ano passado. A caminhada desta quarta-feira foi na praça José Pinheiro Rodrigues, no centro de Barcarena. Uma área grande e agradável, muito verde e cercada por uma calçada revestida com pedras portuguesas. Aliás, no revestimento foram desenhados mais de 70 corações. Coração e exercício físico têm tudo a ver. Essa é a minha motivação para sair da cama (no meu caso, da rede) mais cedo: a máquina que me mantém vivo tem que funcionar bem, se quiser viver com qualidade não sei até quando. Foram cinco voltas entorno da praça. Só isso para começar... Mas não basta ter um corpo saudável para viver em paz. Ando preocupado também com aquilo que não se vê, a alma, o espírito. Por isso, faz bem praticar alguns exercícios espiritu

UM LUGAR PARA MORRER

Imagem
Dentre as muitas praias existentes em Barcarena tem uma que é chamada de Boa Morte. Um dia desses, fui até lá morrendo de curiosidade. Ela fica no final de um ramal na Ilha Trambioca. Para não se perder pelo caminho, a melhor coisa a fazer é pedir informação. O percurso é feito por uma estrada de terra. Não há risco, exceto na passagem pelo trecho que fica na beira de um barranco. Dá medo de despencar com o carro lá de cima. A chegada à praia compensa, se o objetivo for encontrar refúgio, silêncio e sossego. A Boa Morte é quase uma área particular reservada a poucas pessoas. Um deserto cercado de verde, sombra, brisa e canto de pássaros. Ideal para retiros espirituais em grupo ou momentos de solidão, afinal, o contato com a natureza faz bem ao corpo e à mente. Da próxima vez, vou ficar mais tempo, sem me preocupar com as horas. Levarei o básico como protetor solar, água, livro, rede e repelente (se tiver que passar a noite). Coisa de gente que gosta de simplicidade e de um pouc

ENCONTROS DE ALEGRIA

Imagem
Quando cheguei à Praça da Bíblia, percebi que havia pouca gente. Alguns foliões ainda meio apáticos, outros ansiosos para a festa começar. Aos poucos, as pessoas foram chegando para formar o primeiro arrastão carnavalesco de Barcarena, com o embalo da “bateria  show”. O Bloco dos Amigos tomou as ruas e fez a alegria de muitos. Pelo caminho, a folia arrastou mais gente. Até que todos voltaram a se concentrar, desta vez, no grande estacionamento do ginásio municipal. Já era uma multidão. E no meio do agito havia uma senhora de 72 anos. Dona Lúcia talvez fosse a pessoa de mais idade entre a maioria jovem. Ela chegou transmitindo alegria e distribuindo abraços, cumprimentou vários conhecidos, deu e recebeu carinho. Surpreendeu com sua disposição para permanecer na folia, sem se queixar de nada. Tia Lúcia, como é conhecida, queria marcar presença e ver o trabalho dos filhos e dos amigos dos filhos que animam o carnaval barcarenense. Ficou de pé diante da bateira, como se estivesse ava

BARCARENA É SIMPLICIDADE

Imagem
Essa semana conheci o boteco do Ramon. A baiuca dele é um puxadinho de madeira que vende produtos de primeira necessidade e, claro, bebida alcóolica. Quem quer vinho, tequila ou outro tipo de cachaça encontra lá e ainda é servido atenciosamente.   Com seu estilo alternativo, Ramon sabe cativar a clientela. Ele é um cara polido e tem muita habilidade na preparação dos drinks. A mistura de aguardentes recebe nomes hilários. O mais engraçado é o “Fogo no Rabo”. Não achei necessário experimentar, mas vi quem o fez e o resultado que deu. Bem, tudo isso para dizer que a venda do Ramon é um pedacinho da simplicidade de Barcarena. A cidade oferece sofisticação também, mas prefiro o básico, ou seja, o descomplicado. Assim é no boteco. Bateu a fome, a balconista faz uma farofa de ovo, conforme o pedido do freguês. Não tem cerimônia na taberna.  A música que toca está sempre de acordo com o gosto do consumidor. Minha sugestão foi atendida e ouvi rock a noite toda ao lado de camaradas

RECOMEÇO EM BARCARENA

Imagem
A melhor cidade do mundo é aquela onde você está bem. Não precisa morar em castelo, basta um lugar aconchegante. Não precisa conhecer muita gente, basta ter boa relação com  o  próximo.  O trabalho tem que ser satisfatório e deve sobrar tempo para desfrutar pequenos prazeres. Barcarena tem sido generosa comigo  nesses quesitos. Aqui não tem trânsito caótico e já vi muito motorista respeita ndo  a faixa de pedestre.  Coisa boa.  A tranquilidade impera. O comércio fecha ao meio-dia e só reabre às 15h. Até brincam que os restaurantes fecham para o almoço. Mas é mentira. O silêncio , sim, é verdade. Em horário comercial, é comum escutar os anúncios de carro-som pelas ruas ou o barulho das embarcações que navegam no rio  Mucuruça . Mas é só. À noite, outra calmaria. Parece que a vizinhança se recolhe cedo. Será que é por receio da violência? Nunca vi, mas tem. Ainda não testemunhei nada que me colocasse medo.  E olha que gosto de observar o movimento noturno.  Percebo gestos e atos s