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Mostrando postagens de março, 2018

AUDIÊNCIA DE CONFLITOS

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Atentos ao movimento na Vila dos Cabanos, vendedores ambulantes cercaram a entrada da igreja para oferecer lanches e ganhar um dinheirinho extra. Aos poucos, os participantes da audiência pública sobre o caso Hydro foram chegando. A imprensa também não faltou nem os políticos e suas bandeiras. O espaço era apenas para mil pessoas e ficou lotado. Policiais militares se posicionaram por perto, e uma equipe de segurança particular estava de prontidão para acalmar os ânimos, caso houvesse necessidade. Com a palavra, o Ministério Público. O promotor em destaque fez uma prestação de contas do trabalho realizado desde que a empresa norueguesa foi denunciada por crime ambiental. Depois dos promotores foi a vez de ouvir os representantes das comunidades e seus interesses. A plateia ficou dividida entre os que atacaram e os que defenderam a Hydro. As manifestações também foram expressas por meio de faixas e cartazes: “Hydro assume vazamento. E agora?” “Se ajuste, Hydro, pare de cometer crime

BOLO PRA QUEM?

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2012 foi o ano em que pedi demissão de dois empregos em Belém, arrumei a bagagem e vim passar uma temporada de três meses em Barcarena, cidade da região metropolitana. Não conhecia nada nem ninguém. Tudo foi novidade, exceto a praia do Caripi onde já tinha estado cerca de 15 anos antes. Com o passar dos dias, fui conhecendo as pessoas e me entrosando por aqui.  Durante o primeiro período no município, recebi a ligação de um certo Carlos Baía. "Renunciei a minha chapa", informou ele. O vice da candidata do PT tinha abandonado o barco, enfraquecendo ainda mais a petista que não tinha chance de vitória. Esse foi o primeiro contato com Baía, que (depois soube) era repórter e apresentador de rádio, com boa experiência no ramo. "Obrigado por informar", disse a ele. Terminado o processo eleitoral, fui convidado a trabalhar em Barcarena e acabei integrando o grupo de comunicação do qual Baía faz parte hoje. Lá se vão mais de cinco anos de trabalho e convivência com ele

ILUSÃO DE ÓPTICA

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Acordei na madrugada de domingo com um incômodo barulho na vila de casas onde moro em Barcarena. O relógio marcava 3h30. O som de destelhamento vinha dos fundos do conjunto de imóveis. Fiquei paralisado e imaginando pessoas abrindo um buraco na cobertura para invadir e roubar a casa vizinha. A próxima poderia ser a minha. Quanto mais imaginava coisas, mais aflito ficava. Pensei em chamar a polícia, mas não tinha certeza de que havia bandidos no telhado. O barulho não cessava. Estava vendo a hora alguém, mais corajoso que eu, acordar e dar o alarde com o grito de "pega ladrão". Que nada, ninguém acordava. Na minha cabeça, estavam fazendo a 'mudança' na casa de trás e eu, o único acordado, impotente, sem poder fazer nada. Até que criei coragem e levantei para ver o que estava acontecendo. Liguei a lanterna do celular e fui à área de serviço da casa. Joguei luz para refletir na parede de um outro imóvel vizinho ao nosso, na tentativa de assustar os suspeitos e, para

GAROTO DE PROGRAMA

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João é o nome fictício do cidadão de Barcarena que me mandou mensagem pelo whatssap, com um pedido inusitado. Queria orientação sobre prostituição masculina (como se eu tivesse alguma experiência no assunto). Faz tempo que ele está desempregado e não consegue trabalho no município. João – Tá onde? Eu – Barcarena. João – Vou virar garoto de programa. Como faço? Eu – KKK sério? João – É sério, sim. Quero ganhar dinheiro, tô precisando. Tu conheces mulheres que queiram pagar? Coroas? Eu – Já tens experiência na área ou vai ser a primeira vez? João – Vai ser a primeira vez. Como faço? Eu – Não sei o caminho a seguir nesse campo. Mas penso que o primeiro passo é conversar com quem já atua nisso. João – Pois é, não conheço ninguém. Eu – Esse é um trabalho que pode te trazer muitas frustrações. João – Como? Eu – Talvez não ganhes o dinheiro que precisas nem terás segurança nas relações. João – Hum... Eu – Tem mesmo que fazer isso? João – Tô precisando de dinheir

VISITA IMPACTANTE

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Que tal conhecer a comunidade Bom Futuro, em Barcarena? É um lugar escondido da paisagem urbana, embora esteja tão perto da Vila dos Cabanos, que nos anos de 1980 foi construída para atender os funcionários do projeto Albras/Alunorte. A Vila era como se fosse um grande condomínio fechado de casas, onde os moradores tinham boa infraestrutura. Já a comunidade Bom Futuro ficou espremida entre a Vila dos Cabanos e os depósitos de resíduos sólidos da Alunorte, hoje Hydro. Ficou perto das bacias de rejeitos e longe do progresso divulgado pelos empreendedores que trouxeram as indústrias para Barcarena. Ficou perto de uma área de risco e longe da segurança e do bem-estar a que todos temos direito. Morar na Bom Futuro é ter um presente nada bom. O vazamento da Hydro na comunidade deixou os moradores angustiados, como a dona Maria Cardoso que tem uma casa a poucos metros da montanha de rejeitos. Nesses dias, a imprensa deu voz a ela, mostrou seus problemas e aflições diante da possibilidade

DESTA VEZ, SEM a-ha

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Alvo de críticas após denúncia de crime ambiental em Barcarena, a Hydro Alunorte tem tomado medidas para diminuir os impactos negativos contra a empresa, já que a notícia da contaminação atestada pelo Instituto Evandro Chagas no entorno das bacias ganhou grande repercussão. O próprio presidente da Hydro veio ver de perto o que ele chamou de “situação desafiadora”. Svein Richard Brandtzaeg foi à comunidade Bom Futuro, a mais próxima da área dos depósitos de resíduos, conversou com moradores e procurou saber das pessoas onde foi que a Hydro falhou. Foi um gesto de preocupação em todos os sentidos. A orientação da empresa agora é redobrar o cuidado com a saúde das pessoas e com o meio ambiente. Mudanças internas na refinaria foram anunciadas pelo CEO, que pôs os pés no chão e na realidade das famílias atingidas pela poluição dos rios. A presença do dirigente máximo da Hydro na comunidade de Barcarena foi uma forma de melhorar a imagem da empresa perante a opinião pública. Tomara que

HYDRO E OS BARCARENENSES

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Estudos sobre o desenvolvimento da Amazônia mostram que a instalação do projeto Albras/Alunorte foi uma imposição do governo brasileiro em Barcarena no final dos anos de 1970. Uma imposição agressiva, do tipo ‘vai ser assim e pronto’. Bem arrogante. Em pleno regime militar, as empresas chegaram sem perguntar o que o município achava do empreendimento e como poderia ser parceiro. Aliás, os empreendedores da época consideraram que havia uma incapacidade administrativa na cidade para envolvê-la no processo. Foi uma transformação impactante na vida social e econômica dos barcarenenses. Quem morava em Ponta Grossa, Cabeceira Grande e outras comunidades de Vila do Conde teve que se retirar de suas terras para dar lugar ao projeto. Houve conflitos e resistências, mas as famílias tiveram de sair da área. Muitas reclamaram da indenização que receberam. O tempo passou, a Alunorte foi comprada pela norueguesa Hydro, no entanto, os conflitos e as resistências continuam, e agora mais do que nunca