SOBRESSALTO NO ÔNIBUS

O UFPA/Ver-o-Peso estava quase vazio nesta quarta-feira. Chovia na hora que embarquei com destino ao Campus do Guamá. Com as janelas fechadas, a ventilação foi ficando mais escassa e o suor do corpo aumentou. No meio do itinerário, um homem magro subiu pela porta de trás do veículo, sem pagar a passagem, e começou a distribuir bilhetes para os poucos passageiros.

O bilhete dizia que ele era um ex-presidiário, não conseguia emprego e tinha dois filhos para sustentar. Queria nem que fosse 50 centavos. Pensei o pior. Minha mochila, meu celular, meus cartões... Vou perder tudo? O cara é ex-presidiário. Lá vem ele. Estava sozinho nas últimas cadeiras. Reiterei as moedas do bolso antes que ele chegasse perto e, em seguida, passei para o pedinte. 

Pensei que ele fosse descer depois que pegasse o dinheiro, já que eu era o último abordado. Mas não. Ele se assentou ao meu lado. Vai ser agora, pensei. Olhei pro homem e perguntei "qual teu nome?". Jessé, disse ele. "Por que foste parar no presídio?", continuei. "Assalto. Duas vezes". Respirei fundo e deixei transparecer meu espanto. Mas a partir daí me calei. Não demorou muito e ele desembarcou.

Antes de sair do ônibus, o tal ex-presidiário agradeceu ao motorista e da rua ainda fez um aceno. Se foi mesmo verdade a história do presídio, não sei. Só sei que fiquei assustado. Bem, voltei a usar o transporte público em Belém nos dias em que tenho aula na UFPA. Economizo gasolina, gasto menos, não me estresso, ganho tempo pra ler e encontro pessoas no meio da viagem pra conversar entre Barcarena e a capital, com e sem emoção.


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